segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ANAIS DO BOCÃO: ÓCIO E PÉROLAS



       Porque o ócio é capaz de grandes preciosidades que somente os grandes são capazes de produzi-las. Tanto que no antigo Império os mais importantes intelectuais – a exemplo de Cícero e Sêneca – de Roma o tinham arraigado no seu íntimo. Não à toa nós, remanescentes do ginásio – novinho do tempo de ginásio! – do grande Colégio Sete de Setembro - àquele que só se ama uma vez, a primeira e para sempre – também produzimos durante o corrente ano inúmeras pérolas, não menos dignas de registro – nem de modéstia.
       Torna-se efetivamente pertinente elencá-las dado o crescimento da família do Bocão, que aumenta a cada dia, visto que os novatos poderão ficar um pouco perdidos diante da enxurrada de mensagens e atualizações que parecem surgir à velocidade da luz, principalmente em se tratando de conversas nas quais um dos interlocutores é a nossa calada amiga Sandra e sua constante falta de assunto.
       Assim foi que no último ano passeamos nossas intrépidas línguas nesta magnífica plataforma tecnológica, mas, ao mesmo tempo tão cruel em matéria de mal-entendidos e melindres, a qual não perdoa o mínimo deslize dos seus componentes, chamada WattsApp – intimamente conhecida por zap zap por nós Tupiniquins.
      Como esquecer, por exemplo, de nossa amiga Sandra Tartá – olha ela de novo! – e sua perspicácia datação dos Livros Sagrados. Pois bem, numa das citações da Bíblia – como o faz de costume. Só perdendo para Edsão (perdoem-me a grafia) – a nossa amiga foi longe ao afirmar que os escritos sagrados tinham “cinco milhões de anos” – acho que nesse tempo só tinha dinossauros na terra. Espero não estar enganado para que eu não seja obrigado a me colocar também nesse relato. Não que eu não o esteja, como veremos a seguir.
     Parodiando Geraldo Vandré, pra não dizer que não falei de mim, certa vez – como acredito que muitos de vocês fazem diante do grande número de mensagens que vemos na telinha após um pequeno período sem checar o celular – comecei a olhar e ouvir as mensagens de trás pra frente e salteadas – achei que assim daria para contextualizá-las – e deduzi erroneamente que era o aniversário de Alexandre, visto que todos o parabenizavam. Então gravei um áudio no qual também o parabenizava pelo seu dia e desejava felicidades. Pouco depois – o magnífico feedback à velocidade da luz – Wheidy Maria – é assim que vou chamá-la de agora em diante – entrou com um áudio a me alertar do meu engano, pois não se tratava do aniversário de Alexandre. Eu, prontamente e inocentemente gravei outro áudio no qual eu retirava tudo o que havia dito. Isso mesmo! Eu retirei tudo o que disse! – isso incluía, naturalmente, os desejos de felicidades, tão bem lembrado pelo áudio da amiga Wheidy Maria.
      Nossa amiga Ilka também esteve presente no que chamamos carinhosamente de “Os Anais do Bocão” do qual eu sou – como vocês puderam perceber – o relator e anotador contumaz. Perdoe-me o trocadilho, mas não havia melhor momento pra se falar dos anais do que este ao lembrar da eloquente firmeza verbalizada por Ilka ao protestar que nós não vivíamos “no furico do mundo”.
      Vocês sabiam que Alexandre toma “Navagina” quando está com dor de cabeça? Como sou uma pessoa compreensiva resolvi não colocar esse episódio nos anais – olha ele aí de novo! –, pois o grande tempo sem falar português com freqüência – agora ele tem a nós para praticar – o deixou, como ele mesmo nos disse, “enferrujado” no uso da língua materna e capaz de cometer essas impropriedades.
      Convém também lembramos as intermináveis conferências de Sandra, Mônica, Cynthia e Wheidy a respeito de como rejuvenescer – como se isso fosse totalmente possível – nas quais eram discutidos os mais revolucionários métodos para tal, como ioga facial antirrugas, cremes variados, além de receitas caseiras que não sei se foram postas em prática. Se bem que Sandra enveredou mesmo pelo caminho radical da cirurgia, ao invés de esperar pelos resultados das citadas conferências – mas não foi a doutora Rola, indicada por Alexandre, que operou nossa amiga, pois ela não tinha agenda, infelizmente.
      Como toda família, no bocão também há algumas discussões devido a divergência de opiniões – isso acontece nas melhores famílias – e choque de temperamentos. Nada que não termine bem com um abraço virtual e fraterno. Aliás, o tempo passou e – ainda bem – nos conservou a essência de nossas personalidades. Isto foi percebido nestes acontecimentos os quais nos fazem remontar ao tempo da escola. Cada qual permaneceu, na maioria dos casos, com sua identidade – que bom!
      Mas o que nos marcou profundamente foi mesmo o encontro que realizamos com alguns membros quando da vinda de Wheidy e Luca. Passamos uma tarde bastante significativa na qual tivemos a oportunidade, depois de tantos anos, de nos rever e aos nossos cônjuges meeiros – segundo Cynthia – e filhos. Foi como que uma renovação, um revigoramento, agora acrescido de novos membros a dar continuidade no que outrora fomos e somos – amigos, família. As novas gerações se encontraram e começaram a criar vínculos. Foi assim no encontro entre os filhos de Murilo, Wheidy e Ilka, que jogavam futebol nos jardins da chácara de Sandra aos olhares contemplativos dos pais e amigos. Lembramos-nos de acontecimentos que parecíamos não lembrar. Até ficamos sabendo de traumas psicológicos passíveis de reparação indenizatória a ser impetrada contra Murilo por Sandra devido a Buylling – no nosso tempo nem existia isso – e constrangimento ao zombar da roupa rasgada e da suposta indignidade de pertencer à selecionada casta dos alunos do Sete de Setembro da impetrante. Depois deste curto momento, a despedida na tapiocaria significou tanto que fez Murilo derramar lágrimas, que segundo ele, não derramava desde a morte de sua avó. Foi uma boa noite.
      Assim, neste breve resumo espero ter conseguido transmitir as boas vindas aos recém-chegados e que eles possam ter uma vaga ideia do que temos feito e debatido e acontecido aqui, na continuidade do primitivo bocão mimeografado no qual a criatividade de jovens amigos posta no papel atravessou o tempo e os fez o reencontro perceber o quão boa é a vida e as amizades que se fazem no seu decorrer.