terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Haicai, concisão e objetividade em dezessete sílabas poéticas

        Haicai é um micropoema de origem japonesa no qual a concisão, poder de síntese e objetividade são dispostos em dezessete sílabas poéticas em três versos.
        Originalmente corresponde a dezessete caracteres japoneses dispostos verticalmente, geralmente acompanhados de uma pintura (haiga), cada qual correspondendo a uma sílaba poética, sendo que em português os versos são dispostos horizontalmente, conforme a tradição da escrita ocidental da maneira seguinte: cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro, geralmente sem rimas.
        Em geral os temas são fruto da observação da natureza, contendo quase sempre uma palavra que dê uma pista sobre a estação em que foi observada (kigo).
        Porém essa rigidez da métrica não é sempre seguida por determinados autores, limitando-se estes à composição dos três versos, principalmente devido à diferença de silabação entre a língua portuguesa e japonesa. No entanto, primo pela composição clássica de haicais que obedeçam fielmente à tradição japonesa das dezessete sílabas poéticas.
        Atribui-se a chegada do haicai no Brasil com os imigrantes que aportaram à bordo do navio Kasato Maru, em 1908, quando Hyôkotsu teria produzido o primeiro haicai:

     "A nau imigrante
      Chegando, vê-se do alto
      A cascata seca"

       Um dos maiores nomes do haicai japonês é Matsuo Bashô (1644-1694), autor do seguinte haicai, um dos mais famosos:

     "O velho tanque
      Uma rã mergulha
      Barulho de água"

      Ao ler esse poema transcendemos o escrito e podemos imaginar a cena descrita pelo poeta, sentir propriamente a atmosfera de calma, silêncio, umidade, quebrados pelo barulho da rã ao cair na água. Esse é o poder e o fascínio do haicai.

     Lúcio Torres

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A poesia não está morta

              Certa vez me disseram que a poesia estava morta. Morto está quem está morto pra poesia, vivendo uma vida mecanicista, burocrática, fechada e sem fantasia, que não consegue alcançar a transitoriedade que deleita, fascina, envolve e nos faz viver num mundo melhor.
              A poesia está presente em tudo. Sempre foi assim. Ela continua lá! A espera de quem a perceba, de quem consiga fixá-la no papel, num quadro, numa música, numa escultura ou o que quer que seja que possa ser considerada uma obra de arte aos olhos de quem lê, ouve, vê, apalpa ou sente.
             Não, a poesia não está morta! Nunca morrerá! Nós sim, passaremos. E passaremos mais suavemente pela vida com sua ajuda, que a torna mais leve e agradável como plumas soltas e levadas pelo vento.
 
                                                                                                                    Lúcio Torres